Famílias que perderam parentes para a covid-19 estão recebendo cartas elaboradas por psicólogos do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) com mensagens de solidariedade, que objetivam ajudá-los a amenizar a perda e a superar esses momentos de dor. Desde março de 2020, quando a iniciativa foi adotada, até julho deste ano, já foram enviadas mais de 300 “cartas de condolências”, segundo a psicóloga Érika de Oliveira Lima, idealizadora do projeto.
As mensagens são motivacionais. Procuram destacar e atacar crises de comportamento psicológico bastante comuns durante o luto, como tristeza, desânimo, desinteresse, revolta e indisposição para realizar atividades rotineiras. Érika Lima ressalta que esses sentimentos foram potencializados com a pandemia, quando familiares não puderam se despedir nem dar um funeral digno aos parentes mortos pela covid-19.
A “carta de condolência” esclarece que essas crises são temporárias, mas recomenda à família procurar a ajuda de especialistas caso as reações se prolonguem por mais de seis meses. “Nesse sentido, nos colocamos à disposição para auxiliar vocês a passarem por este momento tão doloroso”, destaca trecho da mensagem.
Érika Lima acrescentou que o projeto dá continuidade ao suporte psicológico oferecido aos familiares no momento em que os pacientes são admitidos no HRSM, administrado pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IGESDF), que atende vítimas da covid-19. “O alto número de óbitos causados pela pandemia veio de uma forma muito avassaladora para os familiares e até mesmo para nós, profissionais de saúde”, explica. “Então, decidimos criar esse projeto como forma de prevenir um luto ainda mais complicado e intenso das pessoas que perderam entes queridos”.
O projeto ajudou a advogada Flávia Maria Gomes, 26 anos, a lidar com a morte do pai José Carlos da Silva, que faleceu em junho do ano passado com covid-19. “O apoio da equipe de psicologia foi importante durante todo o processo, desde a internação até o óbito”, declarou Flávia.
Ela jamais esqueceu do momento em que foi até o hospital para ver o pai já sem vida. “Como meu pai já não estava mais com o vírus, o hospital deixou a família se despedir dele. Minha mãe e minha irmã não quiseram entrar no quarto, mas eu tomei coragem e fui”, conta. “O tempo todo tivemos o apoio dos psicólogos, que ofereceram ajuda mesmo depois que deixamos o hospital. Achei uma atitude muito humana e empática. Esse apoio nos ajudou muito a enfrentar a dor da morte do meu pai de uma forma melhor”.
São 12 psicólogos que prestam assistência a familiares e pacientes internados no HRSM. Eles trabalham em sistema de rodízio para que sejam atendidos, permanentemente, todos os enfermos que ocupam os 60 leitos (40 na UTI e 20 no Pronto-Socorro) destinados exclusivamente a doentes com covid-19.