Amor celebrado no jardim do Hospital de Base

Amor celebrado no jardim do Hospital de Base

Paciente de câncer, Jojô realizou o sonho de se casar com o amor da sua vida, Luciano, com a ajuda da Rede Feminina

Thaís Umbelino

O amor quebra barreiras e encontra formas criativas de unir um casal apaixonado. Isso foi o que Josilene Batista, 43 anos, e Luciano Oliveira, 44, provaram nesta sexta-feira (29), durante a cerimônia de casamento deles realizada no jardim do Hospital de Base (HB). Nem a pandemia nem o diagnóstico de um câncer da noiva foram impedimento para o casal apaixonado oficializar a união.

Padre, buquê, música, tapete de entrada e uma decoração especial. Atendendo ao sonho de Josilene, carinhosamente chamada de Jojô, tudo foi providenciado pela Rede Feminina de Combate ao Câncer, grupo de voluntários do HB que oferece apoio a pacientes oncológicos.

Há 23 anos juntos, o casal sempre quis oficializar o relacionamento, mas as dificuldades financeiras adiaram esse sonho. O desejo ficou ainda mais forte depois que a noiva descobriu o câncer de mama, em 2017. A urgência em viver fez Jojô tomar coragem e pedir ajuda. “Depois que a gente descobre um câncer, começa a refletir mais sobre a vida e sobre o que queremos fazer. Eu sonhava em me casar, mas não tinha dinheiro, e a Rede Feminina realizou meu sonho”, disse, emocionada.

O vestido rosa simbolizava os mais de três anos de luta contra o câncer. De máscara e respeitando o distanciamento social, mais de 50 convidados, entre eles pacientes oncológicos e familiares, comemoraram o amor do casal. Quem também aplaudiu a união foi a coordenadora da Rede Feminina, Vera Lúcia Bezerra, a Verinha.

“A missão dada foi cumprida graças a toda a equipe do hospital, que nos permitiu fazer nosso trabalho, e a toda a ajuda recebida. Sem a contribuição de todos, nada disso seria possível”, disse. Para Vera, o momento simboliza a essência do que é o amor. “Só através dele a gente consegue desabrochar em nós o melhor que a gente tem”, concluiu.

O momento para o noivo é só de gratidão. “Há muitos anos que quero realizar esse sonho com a minha esposa. Chegar aqui e encontrar essa surpresa para nós é demais, a alegria não cabe no coração. Só tenho a agradecer às pessoas que ajudaram, que nos presentearam com isso”, declarou Luciano.

A preparação para o dia especial

O pedido de casamento ocorreu no fim de 2020, mas, diferentemente da tradição, quem tomou a iniciativa foi Josilene. “Eu comentei com a Verinha sobre essa vontade, e ela disse que daria um jeito. Depois da afirmativa, eu fiz o pedido ao Luciano”, contou, rindo. Luciano não pensou duas vezes e disse sim.

Então foi a vez da Rede Feminina entrar em ação. “Começamos a pedir doações de dinheiro e de produtos para o dia da festa. Ganhamos o bolo, os salgados, o buquê e as roupas dos noivos”, disse Verinha. Com o dinheiro, a Rede também conseguiu pagar a cerimônia no cartório e a hospedagem em um hotel de Brasília para a lua de mel.

Com menos de dois meses de preparação, o dia especial foi marcado para 29 de janeiro de 2021. Pela manhã, o casal oficializou o matrimônio no cartório e depois foi comemorar em um restaurante. “Pela primeira vez, comemos em um self-service. Foi muito emocionante o dia. Curtimos muito”, contou Josilene.

No horário da tarde estava marcada uma cerimônia simples no Hospital de Base. Mas a noiva não sabia que a produção seria tão elaborada. “Eu não esperava ter uma festa desta. Foi tudo tão maravilhoso, tão bonito. Eu agradeço a todos os colaboradores, às meninas da limpeza, aos médicos, aos enfermeiros, aos voluntários, a todos”, agradeceu Jojô.

O evento também foi presenciado pela chefe de enfermagem do HB, Thais Ribeiro, que acompanhou de perto a evolução de Jojô. “É gratificante participar do tratamento de uma pessoa e poder compartilhar um momento especial da vida dela. É o resultado dos nossos esforços, das nossas batalhas e da nossa dedicação diária com a sociedade”, comentou.

O administrador regional de Recanto das Emas, Carlos Dalvan, a convite de Thais, prestigiou o evento. “Eu sou um ativista de ações sociais e presenciar essa ação me deixou muito feliz. Vim para entender a dinâmica e levar essa ideia para minha região. Por meio de parcerias com as redes de saúde de lá, podemos contemplar histórias como essas e ajudar pessoas na realização de sonhos”, disse o administrador.

A história de amor

A baiana Jojô chegou a Brasília em 1993 em busca de melhores condições de vida para conseguir ajudar a filha do primeiro casamento, Denise dos Reis, hoje com 27 anos, que estava aos cuidados da avó.

Na capital, a doméstica encontrou oportunidade de emprego e o amor da sua vida. Ela conheceu Luciano em 1997, numa festa de forró no Paranoá. “Quando a gente se viu, foi amor à primeira vista”, garantiu o marido. Depois de um ano juntos, veio a boa notícia. “Estávamos grávidos da Ludmila”, relembraram em uníssono.

Foi nesse momento que eles decidiram morar juntos, em Ceilândia. Com mais dois anos de relacionamento, veio o segundo filho, Mateus Batista, 19. Diante de muitas lutas e conquistas, o casal hoje vivencia mais de duas décadas de união, sendo a força um do outro.

Em 2017, esse apoio foi ainda mais importante, depois que Jojô descobriu o tumor. “Um dia, deitada na cama, percebi que estava com dois caroços no peito. Imediatamente segui para o posto de saúde e descobri o câncer. Lá nunca me chamaram para iniciar o tratamento. Então eu procurei alternativas e descobri a Rede Feminina”, relembra a mulher.

O grupo de voluntários conseguiu que Jojô fosse atendida no Hospital de Base. Hoje, depois de 12 sessões de quimioterapia, a paciente já está bem melhor. Mas no início, Luciano conta que foram dias difíceis, tanto para assimilar a doença quanto para ver a companheira sofrer com o câncer.

Ele se sente grato em poder ajudar e estar perto todos os dias da mulher que ama. “O que ela precisar de mim ela vai ter, em qualquer momento. Para mim, casamento é amor do início ao fim, e, hoje, eu só consigo agradecer por ela ser minha esposa”, finalizou o marido de Jojô.

Edição: Marina Mercante

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