Atendimentos de dengue nas UPAs aumentaram quase 300% em 2024

Atendimentos de dengue nas UPAs aumentaram quase 300% em 2024

Dados coletados pelos painéis de monitoramento da dengue do Iges mostram o impacto da epidemia.

Bruno Laganá

A incidência da dengue em 2024 tem sido um grande desafio na área da saúde. Nos quatro primeiros meses do ano, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Distrito Federal realizaram 61.049 atendimentos de suspeita de dengue, sendo 33.746 casos confirmados. No mesmo período, em 2023, foram 9.325 atendimentos com a suspeita no total, sendo 8.602 casos reais da doença. O aumento de um ano para outro corresponde a impressionantes 292%.

Em 2023, dos 9.325 atendimentos suspeitos de dengue, apenas 191 precisaram de internações nas unidades de pronto atendimento do DF, uma taxa de conversão de 2,0% dos casos. Já em 2024, dos 61.049 atendimentos, 4.263 casos necessitaram de internação, uma taxa de conversão de 7,0%. A diferença no número de internações de um período para o outro foi de 2.131%.

Legenda: O superintendente das Upas, Francivaldo Soares, explica sobre os desafios enfrentados na epidemia de dengue 2024. / Crédito: Davidyson Damasceno.

De acordo com Francivaldo Soares Pereira de Souza, Superintendente das Unidades de Atenção Pré-Hospitalar do IgesDF, “o principal desafio que as UPAs enfrentam nessa epidemia de 2024 é a necessidade de leitos de internação devido às complicações que os pacientes vêm apresentando devido à patologia.” O espaço físico não comporta a enorme quantidade de casos graves. Por essa razão, por diversas vezes nos meses de fevereiro e março, as UPAs tiveram que restringir o atendimento, e se dedicar exclusivamente aos casos de classificação de risco vermelho, com risco de morte.

“Outro fator que tem dificultado muito enfrentar a dengue em 2024 é a escassez de leitos de retaguarda para dar suporte às UPAs e otimizar o giro dos mesmos nas unidades de pronto atendimento. Com a alta demanda de casos mais graves, o tempo em que um leito fica ocupado é maior”, explica Francivaldo. As equipes tiveram que lançar mão de estratégias alternativas para poder atender mais pessoas.

Diante da atual situação, a diretoria do IgesDF decidiu implementar salas extras de hidratação e consultórios exclusivos para pacientes com dengue, para agilizar os atendimentos e permitir uma rápida reavaliação médica após a hidratação e medicação. Além disso, para acomodar os pacientes foram disponibilizadas poltronas extras que ajudaram a otimizar os serviços e ampliar a capacidade de atendimento.

Legenda: A Classificação de risco é fundamental para a imediata identificação dos usuários mais graves, o que permite um atendimento mais ágil e seguro. / Davidyson Damasceno – IgesDF.

“Optamos por liberar aqueles pacientes que conseguiam melhorar as taxas de plaquetas durante a hidratação e pedimos que voltassem no dia seguinte para uma nova sessão do tratamento. Assim foi possível liberar camas para outras pessoas em igual situação”, lembra Francivaldo. Ele reforça ainda que as equipes das UPAs vêm se articulando com as de atenção primária, para cada vez mais desenvolver um trabalho em rede. “A gente se apoia, para no final alocar o paciente no equipamento de saúde que ele realmente precisa estar”, esclarece.

Os números são categóricos: as UPAs salvaram muitas vidas

Legenda: Mesmo diante dos desafios, o atendimento humanizado e de qualidade, é uma das missões que o IgesDF preconiza nas unidades que estão sob sua gestão/ Davidyson Damasceno – IgesDF

Os dados catalogados pelo IgesDF sobre os atendimentos de dengue nas UPAs mostram que a circulação dos quatro sorotipos do vírus, ampliou a complexidade epidemiológica em 2024, tornando a gestão e prevenção ainda mais desafiadoras para os profissionais de saúde e as autoridades sanitárias.

Em janeiro de 2024, todas as UPAs do DF juntas realizaram 13.514 atendimentos suspeitos ao todo, sendo que 8.765 eram casos confirmados de dengue. Em fevereiro, o número saltou para 17.600 atendimentos suspeitos, sendo confirmados 11.518 casos da doença. Sobre março foram 20.391 atendimentos suspeitos ao todo, com 10.317 casos confirmados de dengue. Já em abril foram 9.544 casos suspeitos, com 3.199 confirmados.

Com uma média de 504,53 atendimentos suspeitos diários, nos quatro primeiros meses de 2024, os números demonstram a força e a capacidade de atendimento das equipes de profissionais médicos e de enfermagem e técnicos de enfermagem das 13 unidades de pronto atendimento do DF.

“Esses números mostram o esforço realizado pelas equipes de atendimento à saúde das UPAs para atender a população, além da importância do planejamento que fizemos. Conseguimos nos organizar muito rapidamente e prestar assistência ao usuário conforme a necessidade e muito além da capacidade diária das nossas unidades”, arremata Dr. Juracy Cavalcante Lacerda Jr., diretor-presidente do IgesDF.

As unidades de Pronto Atendimento que mais atenderam casos de dengue em 2024 foram as de Ceilândia II, São Sebastião, Recanto das Emas, Samambaia e Ceilândia I. Já em 2023, o ranking de atendimento de ocorrências da doença ficou com Brazlândia em primeiro lugar, seguida de São Sebastião, Sobradinho, Ceilândia I e Samambaia. “As UPAs funcionam 24 horas ininterruptamente, sempre de portas abertas para atender, da melhor forma possível, a população das Regiões Administrativas da nossa capital”, lembra Francivaldo.

Legenda: As Upas são estabelecimentos de saúde de complexidade intermediária com atendimento 24 horas, todos os dias da semana, conforme descritas na Portaria de Consolidação n.º 3/GM/MS, do Ministério da Saúde de 28 de setembro de 2017, publicada no Suplemento ao n.º 190 do DOU de 3/10/2017.

A epidemia de dengue em 2024

A dengue é uma doença categorizada como uma arbovirose e é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. De alta complexidade, a enfermidade é impulsionada pelos quatro sorotipos do vírus (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4). Cada um representa uma variante genética distinta e a infecção por um sorotipo confere imunidade duradoura apenas contra esse específico. O desafio surge quando um indivíduo é re-infectado por um sorotipo diferente de dengue, aumentando o risco de desenvolvimento de formas graves da doença.

A reinfecção por um sorotipo diferente do vírus pode desencadear um processo de alteração na coagulação sanguínea. Essa dificuldade na coagulação leva a um quadro de dengue hemorrágica, que se não tiver o tratamento adequado pode significar a morte do indivíduo.

A melhor forma de diminuir a incidência de novos casos de dengue ainda é combater o mosquito Aedes aegypti. Ações simples são eficientes quando realizadas por toda a comunidade. Mantenha bem tampados caixas, tonéis e barris de água, coloque o lixo em sacos plásticos e em local adequado. Não deixe água acumulada e encha pratinhos ou vasos de planta com areia.

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