A aplicação da vacina BCG é preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde nas primeiras horas de vida ou nos primeiros 30 dias de vida do recém-nascido. No Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) a aplicação é feita quanto antes, assim que os bebês chegam à Maternidade. A única exceção são os bebês que pesam menos de 2kg e no caso de a mãe ter recebido biológicos durante a gestação, o bebê deve receber a vacina BCG quando completar seis meses. Na rotina, a vacina é destinada a crianças na faixa etária de 0 meses a 4 anos, 11 meses e 29 dias.
A BCG previne contra as formas graves da tuberculose (meníngea e miliar), é feita com o bacilo de Calmette-Guérin, que é uma forma enfraquecida da bactéria que causa a tuberculose. Ao longo dos anos, a BCG demonstrou eficácia significativa. Vários estudos demonstraram que a vacinação neonatal proporciona 82% de proteção contra a tuberculose grave.
“É uma vacina de dose única e que, geralmente, protege pra vida inteira. Na maioria das vezes, deixa uma marquinha no braço. Mas caso não fique a cicatriz, não tem problema, a pessoa está protegida do mesmo jeito. Não existe recomendação de dose de reforço”, explica a técnica de enfermagem da sala de vacina da Maternidade, Helenice dos Reis.
É preconizada a aplicação no braço direito (região deltoide), via intradérmica (embaixo da pele), que resulta numa pequena elevação com aparência de casca de laranja, a qual desaparece logo após a aplicação, mais ou menos 8 horas. Cerca de três semanas depois, o local começa a ficar vermelho e, possivelmente, formará uma ferida (com ou sem pus), que poderá demorar até três meses para cicatrizar (ferida abre, aparenta cicatriz, abre novamente).
Para que todos os bebês sejam vacinados nas primeiras horas de vida, Helenice pega uma lista de todos os recém-nascidos que chegaram na Maternidade e passa de quarto em quarto chamando as mães para levarem na sala de vacina, localizada no mesmo andar. A profissional explica como funciona a cicatrização da BCG e faz a aplicação.
Comodidade
A sala de vacina da Maternidade funciona de segunda a sexta-feira. No local é ofertada a BCG, já a vacina contra hepatite B e a vitamina K são aplicadas ainda no Centro Obstétrico. “Já tem alguns anos que trabalho focada na aplicação da BCG. Geralmente, tem mais bebês pra vacinar em dias de segunda-feira ou pós-feriado. Mas chamamos todos e vacinamos. Amo meu trabalho, gosto muito do que faço aqui, de furar o bracinho dos “meus bebês””, brinca ela. De acordo com dados da Vigilância Epidemiológica do HRSM, em todo o ano de 2023 foram aplicadas 3.073 doses da BCG, já nos primeiros três meses de 2024 foram 823 doses.
Os cuidados pós-vacinação consistem em lavar normalmente com água e sabão na hora do banho e secar com toalha limpa, sem esfregar. Manter a criança com camiseta de manga para proteger o local de poeira, insetos e para que a criança ou irmão não mexam no local. Manter as unhas cortadas e não deixar coçar.
Guidty Rodrigues, de 30 anos, vacinou o pequeno Harick, de apenas 4 dias na sala de vacina da Maternidade do HRSM. Ele é seu segundo filho e ela lembra que o mais velho, de 8 anos, teve que tomar a BCG na unidade básica de saúde. Por isso, avalia o quanto facilitou.
“Eu acho ótimo ter a vacina aqui mesmo no hospital, sem eu precisar ir num posto de saúde quando eu receber alta hospitalar, ainda sem condições por conta do resguardo. É uma comodidade ele ter tomado a BCG e a de hepatite B aqui, agora só com dois meses. No meu primeiro filho foi bem mais complicado pra mim”, afirma.
A pequena Laura, de cinco dias, recebeu a vacina e teve a ajuda do papai, Alexandre Ferreira, de 48 anos, para segurá-la. “É uma picadinha que fica pro resto da vida. Minha filha já vai sair do hospital protegida e isso é extremamente importante. Gostei demais de poder vaciná-la aqui”, avalia.
Proteção
A tuberculose é uma doença infecciosa de transmissão respiratória, causada por uma bactéria denominada Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch. Apesar de ser uma enfermidade antiga, a tuberculose continua sendo um importante problema de saúde pública. Segundo dados da OMS, no Brasil, ocorrem cerca de 70 mil casos novos da doença ao ano e 4,5 mil mortes; portanto a vacina ainda se constitui como a única forma de proteção contra formas graves de tuberculose em crianças.
Apesar da doença afetar prioritariamente os pulmões, ela pode também acometer outros órgãos e/ou sistemas, causando as formas designadas miliar (quando um grande número de bactérias se desloca pela corrente sanguínea e se dissemina pelo corpo, atingindo vários órgãos) e a forma meníngea (quando afeta as meninges, que são membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal). A vacina BCG começou a ser aplicada no Brasil em 1977.