O Hospital de Base (HB) realizou nesta semana, pela segunda vez em 60 anos de existência, uma complexa cirurgia plástica com laser, na qual células-tronco mesenquimais da própria paciente foram usadas como matéria-prima para poder regenerar, com maior celeridade e eficácia, a região do corpo danificada num grave acidente rodoviário que ela sofreu. Desta vez a paciente atendida foi Albani Neves Santos, 32 anos.
No dia 1º de julho, ela foi atropela por um caminhão ao tentar atravessar a BR-040, rodovia que liga Brasília a Luziânia (GO), onde mora. A perna direita dela foi esmagada. Internada no Hospital de Base, a paciente foi avaliada por cirurgiões plásticos e ortopedistas. Eles concluíram que, como já havia ocorrido em outros casos, a cirurgia de Albani poderia ser feita sem o uso de laser, mas o resultado não seria tão satisfatório. Assim, optaram pela técnica de regeneração por meio de células-tronco com o uso de equipamento a laser.
Na segunda-feira (9), a paciente foi levada para o Centro Cirúrgico do HB. Já na sala de cirurgia, ela não escondeu a empolgação pela possibilidade de ter a perna recuperada. “Este é o melhor dia da minha vida!”, declarou. Depois de seis horas de operação, os cirurgiões plásticos Márcia Moreira e Pedro Brandão e o ortopedista Mário Soares concluíram a cirurgia. Sucesso total. Albani já poderia pensar em levar uma vida normal, sem medo de ser feliz.
Os procedimentos
Márcia Moreira ensina que “todo paciente traumático, que chega com ferimentos profundos e pouca pele, precisa passar por uma cirurgia plástica para repor o tecido”. No caso de Albani, foram necessários diversos procedimentos médicos para o sucesso da operação. Num primeiro momento, a equipe de cirurgiões retirou parte de pele da coxa da perna esquerda da paciente, que não tinha sido atingida, para literalmente enxertar esse material orgânico na área danificada da perna direita.
Depois, foi o momento de usar a técnica “One Step”. Essa tecnologia, usada em lipoaspiração, possibilita menor tempo de recuperação e maior potencial de aproveitamento das células existentes na gordura para regeneração corpórea. A gordura é retirada do abdômen da paciente e, desse material, extraem-se as células-tronco mesenquimais (tipo extraído apenas da gordura). Depois, essas células são processadas e reinjetadas para recompor a parte do corpo atingida.
É um procedimento delicado e complexo, feito por meio de aparelhos que utilizam avançada tecnologia a laser. Para sorte de Albani, os equipamentos foram disponibilizados ao Hospital de Base, unidade administrada pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (IGESDF), pela própria empresa que desenvolveu a tecnologia, a brasileira DMC.
Nessa fase da operação, o trabalho da equipe médica foi extrair gordura do abdômen da paciente e, desse material, separar, por meio da técnica de centrifugação, um bom volume de células-tronco. No caso de Albani, foram retirados 400 mililitros de gordura, de onde se extraiu 40 mililitros de células-tronco. “Essas células vão crescer de forma mais rápida, acelerando a cicatrização dos ferimentos”, explica a cirurgiã Márcia Moreira.
Finalizando a operação, as células-tronco foram enxertadas em volta da área do corpo danificada, enquanto a gordura foi inserida em cima de todo o ferimento. “Esse tecido adiposo serve como um curativo biológico”, acrescentou Márcia.
Esse tipo de cirurgia foi realizado pela terceira vez no Distrito Federal pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde a fundação do Hospital de Base. E sem nenhum custo para a paciente. Calcula-se que se fosse feita pela rede particular, a operação de Albani custaria R$ 60 mil, conta que ela admite que dificilmente poderia pagar.
Alegria recuperada
Dois dias depois da cirurgia, Albani é só alegria. Ainda internada no Hospital de Base, ela está muito animada com o resultado da cirurgia e satisfeita com a atenção que vem recebendo da equipe. “Eu tive a sorte de ser atendida no Hospital de Base e fiquei honrada pelo tratamento que recebi”, elogiou. “As dores diminuíram, fiz novas amizades e estou sendo atendida por uma equipe maravilhosa. Só tenho a agradecer”.
Ainda sem previsão de alta, Albani vai continuar sendo assistida pela equipe médica do HB para que a reabilitação dela aconteça de acordo com o planejamento dos cirurgiões que a operaram. “Agora, a paciente entra na fase de exercícios para melhor adaptação da pele”, explica Márcia Moreira, confiante de que, em breve, Albani poderá seguir sua vida normal.