Semanalmente, a equipe de Cuidados Paliativos do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) realiza um round com a equipe multidisciplinar do pronto-socorro adulto com o objetivo de capacitar a equipe multidisciplinar e discutir os casos dos pacientes internados que se enquadram ou necessitam de cuidados paliativos. A iniciativa completou um ano e a ideia é expandir o projeto para todos os setores do hospital. Os rounds ocorrem todas as quintas-feiras pela manhã, com capacitação teórica e discussão de casos clínicos.
“Nosso objetivo é conseguir alinhar o tratamento nos Cuidados Paliativos mesmo no pronto-socorro, que é um cenário super desafiador. Além disso, conseguir discutir sobre os pacientes com uma visão multidisciplinar, tendo a opinião de cada membro da equipe multi. Cada um tem a oportunidade de falar o que viu, o que avaliou do paciente e distribuir as demandas para suas respectivas áreas”, explica a médica paliativista do HRSM, Brunna Rezende.

Segundo ela, este é um projeto-piloto no HRSM que acabou de completar um ano de existência. O intuito é seguir com os rounds de Cuidados Paliativos nos outros andares, mas como a equipe ainda é muito pequena, não é possível.
No pronto-socorro, o maior desafio é o fato de não haver médicos rotineiros, pois todos são plantonistas. Além de seguir um cuidado paliativo bem feito, tendo em vista que os pacientes são liberados muito rápido.
“A ideia é que os pacientes que continuem internados já subam para enfermaria com o planejamento de Cuidados Paliativos pré-definido. Isso ajuda muito a organizar como vai ser o tratamento desse paciente durante toda a trajetória dele no hospital”, informa.
Conforme o gerente de Emergência do HRSM, Felipe Augusto Oliveira, o round de Cuidados Paliativos nasceu da necessidade do hospital de dar um melhor cuidado para esse perfil de pacientes recebidos no pronto-socorro com frequência. “São pacientes que são idosos, com múltiplas comorbidades, já com limitação de capacidade cognitiva, muitas vezes acamados e que são dependentes dos familiares para a maioria dos cuidados, que entram às vezes num limite terapêutico. A gente aprendeu muito a tratar os pacientes, às vezes, a cura não é possível e aí as pessoas se frustram muito”, destaca.
Por isso, foi identificado, pelo grande volume de pacientes neste perfil, um espaço muito propício para que a equipe conseguisse se aprofundar nesses temas e oferecer um cuidado que fosse mais adequado a esse perfil de cada paciente. Então, foi pensado o round de forma mista, com uma parte teórica e a capacitação da equipe para entender sobre como tratar sintomas, sobre como realizar o cuidado desse paciente, o acolhimento da família, todo o cuidado multidisciplinar, que aborda o psicossocial e a carga emocional da doença também para o paciente, para a família.
“Vimos uma resposta muito positiva, tanto da equipe que sentia essa necessidade, essa carência dessas discussões, e que pôde aprimorar esses conhecimentos, quanto a melhoria dos cuidados com esse paciente”, destaca.
Linha de Cuidados Paliativos
A médica paliativista esclarece que a indicação de Cuidados Paliativos não significa paciente em fim de vida. O que significa é a necessidade de um planejamento de cuidado, que leve em consideração a funcionalidade e os valores de cada paciente. Desta forma, evitam-se exames desnecessários ou até ajuda na realização de exames que precisam ser feitos mais rápido. Tudo depende daquilo de que o paciente precisa para a melhoria de seu quadro clínico.

“Às vezes significa não realizar uma biópsia, às vezes o paciente já tinha um tratamento anterior que ninguém teve tempo de perguntar, não sabia, e a gente parando para ouvir o paciente e a família acaba descobrindo coisas que ficaram perdidas. Dessa forma, conseguimos alinhar esse planejamento que às vezes já existia, ou então começar um novo”, afirma Brunna.
Através do planejamento dos Cuidados Paliativos também é possível ofertar maior qualidade de vida e programar a alta do paciente, com o pessoal do Núcleo Regional de Atenção Domiciliar (NURAD), pois às vezes o paciente precisará de um suporte maior em casa.
“Com o planejamento, estes pacientes e familiares têm menos dúvidas, eles têm espaço para conseguir fazer perguntas, conseguem um acesso mais humanizado para entenderem o que está acontecendo com eles. Então, tem sido muito positiva essa troca com a equipe multi”, avalia.
Durante o round, houve um momento de relaxamento e reflexão sobre as lutas diárias e o processo de finitude da vida feito pela enfermeira paliativista Leonízia Lima. “Temos que olhar para dentro de nós, nos conectarmos conosco para estarmos bem e o paciente se sinta confortável e confie no nosso trabalho”.
Depois disso, ocorreu a discussão de casos dos pacientes que precisam de avaliação e parecer da equipe de Cuidados Paliativos e os casos em que são necessários se reunir com a família para alinhar o plano de cuidado, tendo em vista que o PS adulto acaba recebendo muitos casos de pacientes idosos, crônicos, oncológicos e com doenças neurodegenerativas.