A batalha pela vida ganha maior intensidade quando pacientes com covid-19 chegam aos hospitais apresentando um sintoma grave característico da doença: a falta de ar. Assim que eles chegam, logo acende o sinal vermelho no coração daqueles que precisam agir rapidamente para salvar o paciente que já não consegue respirar: os fisioterapeutas.
A missão deles é reabilitar a capacidade de respirar do paciente com os pulmões afetados pelo vírus. Logo que é internado, os fisioterapeutas avaliam o quadro clínico da vítima. Diante das evidências científicas, eles decidem qual o tipo de assistência ventilatória que o enfermo deve receber. Feito isso, é hora da equipe de fisioterapeutas entrar em ação.
O socorro tem que ser ágil, assertivo e eficaz. Na luta pela vida, eles usam suas armas: máscaras, ventiladores ou respiradores pulmonares. São elas que disparam oxigênio para abastecer, por meio artificial, os pulmões da vítima. E elas funcionam.
Assim que a respiração do paciente começa a ser reabilitada, outros profissionais assumem o comando da luta por mais uma vida. Para os fisioterapeutas, essa parte da missão está cumprida. Mas eles não baixam a guarda.
Ficam de prontidão, aguardando chegar a qualquer hora mais um paciente com a respiração debilitada. E mais pacientes vão chegando. Os fisioterapeutas, mesmo exaustos, voltam ao combate.
E lutam com força, fé e esperança para que a vida vença a morte.
O batalhão de fisioterapeutas
Assim tem sido a rotina dos fisioterapeutas do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF) desde março de 2020, quando começou a pandemia do coronavírus no Distrito Federal. Hoje, o Iges-DF conta com um batalhão de 135 profissionais fisioterapeutas para cuidar exclusivamente de pacientes com coronavírus.
Desses, 78 atuam no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) e 57 no Hospital de Base (HB). Eles estão presentes nas unidades de terapia intensiva (UTIs), nas unidades de cuidados Intermediários (UCIs), nas enfermarias e em pronto-socorro para covid-19.
Nos hospitais administrados pelo Iges-DF o serviço de fisioterapia nas unidades de pacientes críticos funciona 24 horas. Tanto no HRSM quanto no HB, os fisioterapeutas seguem os mesmos protocolos de atendimento aos pacientes com coronavírus estabelecidos por organismos internacionais de saúde.
Seguindo esses protocolos, os hospitais do Iges-DF criaram áreas especiais para atender pacientes infectados que chegam em estado grave. Eles são acomodados em áreas isoladas dos demais doentes. Dependendo do quadro clínico, os pacientes são internados em UTIs e UCIs ou vão para as alas destinadas exclusivamente a contaminados pela covid-19.
Ao chegar, o paciente é avaliado por uma equipe de profissionais de saúde. Cabe aos fisioterapeutas elaborar o diagnóstico físico funcional do enfermo. O diagnóstico vai oferecer subsídios para que a equipe decida se o paciente deve ser intubado ou receber outro tipo de respiração artificial. Seja qual for a decisão, aí entra em campo a expertise do fisioterapeuta.
“Esse processo exige muita habilidade do profissional”, ressalta Agda Ultra, chefe de Fisioterapia do HB. Afinal, o fisioterapeuta auxilia tanto o médico quanto o paciente. Quando o médico introduz no paciente a prótese respiratória para que os pulmões doentes se recuperem, o fisioterapeuta é o profissional responsável pela manutenção e condução dos procedimentos ventilatórios. Ou seja, é ele quem atua para que a prótese seja bem aplicada e para que o equipamento faça todo o trabalho da respiração.
Mas o trabalho não para por aí. “Nós também somos responsáveis pela verificação da oxigenação dos pacientes e por auxiliar a equipe médica e multidisciplinar nos cuidados necessários com os doentes”, acrescenta Andréia Noberto, coordenadora de fisioterapia do Pronto Socorro do HRSM.
Cuidados nas enfermarias
Os fisioterapeutas são igualmente importantes nas enfermarias. É lá que são atendidos os pacientes liberados das UTIs ou que apresentam quadro clínico estável. Nas enfermarias, os profissionais cuidam da recuperação respiratória e motora dos vitimados pela covid.
Entre os exercícios estão movimentos como sentar e levantar dos leitos e subir e descer escadas. “A gente consegue pensar em uma progressão motora desses pacientes, que mesmo com uma necessidade de internação e uso de oxigênio não estão em uma fase crítica da doença”, explica Andréia.
Mesmo depois de receberem alta, muitos pacientes ainda precisam dos cuidados dos fisioterapeutas. Durante o tratamento ambulatorial, os profissionais prescrevem uma série de exercício para que o pacientes supere as seqüelas e recupere suas atividades habituais.
Visibilidade com a pandemia
Desde 2010, o Ministério da Saúde, por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tornou obrigatória a presença de pelo menos um fisioterapeuta para cada 10 leitos de UTI e durante pelo menos 18 horas por dia. No Congresso Nacional, tramita um projeto de lei que pretende ampliar essa permanência para tempo integral.
Com a pandemia, o projeto ganhou mais simpatizantes. Isso porque, a crise sanitária deu visibilidade e relevância ao papel do fisioterapeuta no contexto hospitalar, além de reforçar e valorizar a presença desses profissionais tanto dentro das UTIs quanto nos ambulatórios, ajudando a recuperar vítimas da covid-19.