Hospital de Base atende casos mais graves da doença genética e hereditária mais comum no Brasil

Hospital de Base atende casos mais graves da doença genética e hereditária mais comum no Brasil

Pacientes da anemia falciforme contam crises de dor e elogiam o tratamento dispensado para enfrentar seus efeitos

Abnor Gondim

O Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) está focado em atender os casos mais graves de uma das doenças hereditárias e genéticas mais comuns no Brasil e no mundo. Trata-se da anemia falciforme, cuja incidência nacional está estimada entre 60 mil a 100 mil casos, segundo o Ministério da Saúde, provocando crises de dores, infartos, inclusive ósseo, e câncer por causar a obstrução dos vasos sanguíneos. A alta incidência da enfermidade foi destacada neste mês por causa do Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Falciforme.

Transfusões de sangue fazem parte dos cuidados permanentes necessários para os pacientes.

A respeita da enfermidade, o médico hematologista Alexandre Caio, chefe do Serviço  de  Hematologia e Hemoterapia do HBDF, pontuou que, entre as complicações mais graves, são atendidos casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC), síndrome torácica aguda e priapismo (ereção dolorosa e anormal). Esses pacientes são referenciados inicialmente pelos hospitais regionais, acrescentou. O Hospital de Base é administrado com esse foco pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde — IgesDF, por meio de contrato com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal — SES.

“Não é incomum que, sem tratamento, a gente veja às vezes óbitos muito precoces”, alertou o especialista. “Cerca de 50% dos pacientes não chegam à idade de 18 anos, se não forem corretamente tratados”, reforçou. “Essa é doença genética hereditária mais comum na população brasileira, atinge principalmente negros e pardos. Há, porém, casos de pessoas brancas. Eu mesmo tenho uma paciente loura de olhos azuis”, pontuou. “Essa doença exige uma atenção especial por ser genética, hereditária e precisar de cuidados médicos permanentes”, complementou.

Chicotadas

De acordo com o médico, a patologia provoca mutação genética na molécula de hemoglobina que causa uma alteração dos glóbulos vermelhos. Em decorrência disso, os glóbulos vermelhos, em vez de ter forma côncava ou redonda, assumem um formato de foice e ocorre uma obstrução dos vasos sanguíneos com crises dolorosas e infartos, inclusive infarto ósseo.

“Neste Dia Mundial da Conscientização da Doença Falciforme, a gente conscientiza que essa é uma doença genética que não tem cura, que pode causar uma série de danos e que, graças a medidas de saúde pública, a gente conseguiu incorporar o teste do pezinho, o exame precoce, e dar o diagnóstico das hemoglobinopatias”, apontou.

Uma de suas pacientes, a bibliotecária Telma Oliveira, 55 anos, natural de Sobradinho (DF), conviveu com essas crises desde a infância até os 19 anos, ao mesmo tempo que fazia várias transfusões de sangue. “Eu tive muitas crises, duas ou três vezes por mês. Eram dores tão fortes que eu comparo assim como se fossem chicotadas”, relembra.

Em 2007, a paciente teve a última crise, depois de ter passado a tratar a doença no Serviço de Hematologia e Hemoterapia do HBDF. “Controlo muito a falciforme com as transfusões de sangue . Continuo fazendo tratamento preventivo com as transfusões e com a hidroxiuréia, que também previne as crises, e o deferasirox, que combate o ferro “, detalhou.

Banco de Sangue do Hospital de Base do Distrito Federal – HBDF.

Plano público de saúde

Trajetória semelhante foi enfrentada pela baiana Gleicy Melo, 40 anos, radialista, locutora de loja e graduada em Serviço Social.

“A dor chega a doer na alma”, destacou, agradecendo à Deus e à equipe do Hospital de Base o  cuidado recebido para tratar a doença. “Meu plano de saúde é o SUS [Sistema Único de Saúde]. No Base, sou atendida por oftalmologista, cardiologista e médicos de inúmeras especialidades”, enumerou.

Para a moradora também de Sobradinho (DF) há 9 anos, com o tratamento, é possível levar uma vida normal “com cuidados” que ainda permite alimentar sonhos, juntamente com  o esposo, Joselito Almeida, que tem o traço da doença; e a filha Maria Vitória, 16 anos de idade, que possui a enfermidade.

“Quero voltar à Bahia para fundar uma associação de pessoas com a doença falciforme. Com o objetivo de levar o conhecimento a todos sobre a anemia, conhecer para poder cuidar e lutar pelos nossos direitos”, justificou. O outro sonho é: “Ter a minha casa própria aqui em Sobradinho. Amo Brasília”.

Gleicy, radialista e assistente social, sonha em ter casa própria no DF e montar uma associação de pacientes de falciforme na Bahia.

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