Hospital de Base na linha de frente contra a resistência microbiana

Hospital de Base na linha de frente contra a resistência microbiana

Sandra Turcato

Na Semana Mundial de Conscientização sobre Uso Racional de Antimicrobianos, é preciso debater este tema, que ameaça a saúde pública e requer a atenção de todos nós: profissionais e pacientes

Aproximadamente 1,27 milhão de mortes por ano estão atribuídas diretamente à resistência bacteriana. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), trata-se de uma preocupação crescente e de um dos dez maiores problemas de saúde pública atualmente. O número de mortes poderá a chegar em 10 milhões em 2050, superando a marca de óbitos por causas como o câncer, por exemplo.

A resistência microbiana ocorre quando bactérias, vírus, fungos e parasitas mudam com o tempo e não respondem mais aos medicamentos. “A crescente ameaça da resistência microbiana nos intimida a voltar ao tempo anterior aos antibióticos, quando até mesmo uma lesão de rotina poderia matar”, alertou recentemente o diretor-geral OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Para ele, a resistência microbiana tem impactos em diferentes setores. “E todos devem estar envolvidos na resposta: os setores de saúde público e privado, a agricultura e o meio ambiente”, ressaltou.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância (Anvisa), todas as unidades hospitalares precisam ter um rígido controle para a prescrição de antimicrobianos, ou seja, de antibióticos. O Hospital de Base desenvolveu o Programa de Uso Racional de Microbianos. O sistema sinaliza quando está sendo feita a prescrição de um antibiótico dentro da unidade hospitalar. Um médico infectologista analisa o caso, onde constam todas as informações sobre o paciente, e realiza uma espécie de checagem, para avaliar a real necessidade da prescrição e também a adequação da dosagem e período de uso. O programa também engloba o apoio aos médicos prescritores, para melhor escolha e ajustes na prescrição dos antibióticos. Todas as informações ficam registradas no prontuário do paciente. O programa já é considerado um modelo, que poderá servir de exemplo para ouras unidades hospitalares do País.

“O maior benefício do programa é a prescrição correta de antibióticos, algo tão importante para o paciente e também para a saúde pública como um todo, conforme recomenda a OMS e a Anvisa”, destaca o infectologista Julival Ribeiro, coordenador do Núcleo de Controle de Infecções do Hospital de Base.

Davidyson Damasceno/IgesDF

O programa já promoveu a redução da média de dias de uso de antibióticos. A média era de 14 dias de uso e atualmente é de sete dias. “O programa acompanha os casos para reduzir a toxicidade e os efeitos adversos nos pacientes e a consequente otimização dos tratamentos, assim como a diminuição da seleção das bactérias multirresistentes”, detalha a infectologista Letícia Sudbrack, coordenadora do Programa de Uso Racional de Microbianos do Hospital de Base.

Antimicrobianos muito usados estão se tornando ineficazes, gerando uma série de consequências diretas e indiretas como, por exemplo, o prolongamento da doença, o aumento da taxa de mortalidade, a permanência prolongada no ambiente hospitalar e a ineficácia dos tratamentos preventivos que comprometem toda a população.

Assim, além dos vários benefícios do programa desenvolvido pelo Hospital de Base, há ainda a consequente redução de gastos pela unidade hospitalar – pela otimização no uso de antibióticos e diminuição de tempo de internação. “O programa também tem foco no reforço da educação continuada para prescrição de antibióticos pelos profissionais”, acrescenta Letícia Sudbrack.

O programa já abarca 60% do Hospital de Base. O objetivo é que ele seja implementado em 100% de todas as unidades do IgesDF.

Davidyson Damasceno/IgesDF

RESISTÊNCIA BACTERIANA

De acordo com o Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos no Âmbito da Saúde Única, do Ministério da Saúde, a resistência aos antimicrobianos é um dos maiores desafios para a saúde pública, com importante impacto na saúde humana e animal. Entre as causas, está o mau uso de medicamentos antimicrobianos na saúde humana; a existência de antimicrobianos de má qualidade; e a insuficiente regulamentação e fiscalização do uso dos medicamentos antimicrobianos.

O documento foi elaborado em convergência com os objetivos definidos pela aliança tripartite entre a OMS, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e apresentados no Plano de Ação Global sobre Resistência aos Antimicrobianos. O objetivo geral dos planos de ação é garantir que se mantenha a capacidade de tratar e prevenir doenças infecciosas com medicamentos seguros e eficazes, que sejam de qualidade assegurada e que sejam utilizados de forma responsável e acessível a todos que deles necessitem. O documento enumera vários objetivos. Entre eles, o de promover o uso racional de antimicrobianos no âmbito da saúde humana.

O combate à emergência e à propagação de bactérias resistentes aos antimicrobianos e ao desenvolvimento de novos mecanismos de resistência exige uma abordagem conjunta e articulada de vários segmentos governamentais, dos profissionais de saúde e de toda sociedade.

Nesse sentido, a Anvisa publicou a Diretriz Nacional para Elaboração de Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos em Serviços de Saúde, que tem como principal finalidade orientar os profissionais dos serviços de saúde – hospitais e atenção básica – para elaboração e implementação de seus programas de gerenciamento do uso de antimicrobianos.

SERVIÇO:

Faça a sua parte!

– Não exija que o médico prescreva antibiótico, se não for estritamente necessário;
– Não compre antibiótico sem receita médica;
– Caso tenha sido prescrito antibiótico, faça o tratamento da forma correta, seguindo a orientação médica.

Renata Nandes

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