
O Centro Cirúrgico do Hospital de Base do Distrito Federal, gerido pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF), foi palco, nesta sexta-feira (11), da última etapa do II Curso Internacional de Segmentectomia Pulmonar e Estado da Arte em Reconstrução 3D, um dos eventos mais relevantes da cirurgia torácica no país. A programação reuniu, desde o dia 7, profissionais do Brasil, Estados Unidos e Canadá em um intercâmbio técnico-científico voltado para o aprimoramento de técnicas minimamente invasivas no tratamento do câncer de pulmão precoce.
Mais do que um momento de formação, o último dia do evento teve impacto direto na assistência à população: duas pacientes da fila da regulação da Secretaria de Saúde do DF, diagnosticadas com câncer de pulmão, foram operadas durante o curso, com acesso a uma das técnicas mais modernas da medicina atual. Os procedimentos foram transmitidos ao vivo online, direto do Centro Cirúrgico do Hospital de Base, para toda a América Latina, com tradução simultânea em espanhol.
“É muito significativo poder aliar um evento científico dessa magnitude ao atendimento direto de pacientes do SUS. Estamos operando casos de câncer de pulmão em estágio inicial, com as técnicas mais modernas disponíveis no mundo, e garantindo a esses pacientes o melhor tratamento possível dentro da rede pública”, afirma o Dr. Antônio Bonaparte, chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital de Base.
Um dos destaques da programação foi a presença da Dra. Paula Ugalde, cirurgiã do Brigham and Women’s Hospital, da Harvard Medical School (EUA), referência mundial na área, e da Dra. Isabella Muller, radiologista PHD pela USP com formação na University of British Columbia (Canadá). Ao todo, 20 cirurgiões participam presencialmente do evento, que conta também interação ao vivo com a equipe médica durante as cirurgias. O curso teve a coordenação do Dr. Humberto Alves de Oliveira, cirurgião torácico do Hospital de Base e do Sírio Libanês.
Aplicação de técnicas modernas de ponta no SUS é possível

De acordo com o Dr. Bonaparte, nos dias 7 e 8, o curso trouxe aulas onlines ao vivo para a discussão de tópicos mais recentes em câncer de pulmão. “Também foram discutidas as indicações de ressecção cirúrgicas em segmentectomia, juntamente com inovações tecnológicas em reconstrução de imagens tridimensionais das tomografias”, explicou.
A técnica apresentada envolve a segmentectomia pulmonar anatômica por videotoracoscopia, uma abordagem minimamente invasiva que permite retirar apenas o segmento do pulmão afetado pelo tumor, preservando o máximo de tecido saudável. Aliada a isso, a reconstrução tridimensional da anatomia do pulmão oferece um ganho inédito de precisão para os cirurgiões.
“Essa reconstrução 3D é um avanço enorme. É possível ver com clareza a anatomia antes mesmo de abrir o paciente e manipular virtualmente os segmentos pulmonares. É uma revolução que contribui diretamente para a segurança do procedimento”, explica Bonaparte. “Além disso, estamos falando de um câncer detectado precocemente, o que eleva as chances de cura para até 92%.”

De acordo com o Dr. Bonaparte, participar do curso foi muito interessante porque ele traz a técnica mais moderna e mais atualizada em cirurgia torácica. “Os últimos trabalhos mostraram que para câncer em fases iniciais, estágio 1 e às vezes até estágio 2, com lesões pequenas, é possível fazer uma ressecção pulmonar mais econômica. Poder difundir essa técnica com mais cirurgiões do Brasil e da América Latina, vamos conseguir proporcionar aos pacientes a melhor técnica segura para câncer de pulmão precoce, diminuindo as complicações e garantindo uma qualidade de vida melhor”, concluiu.
A ideia de realizar as cirurgias no Hospital de Base, além de ser o maior hospital do Centro-Oeste, é mostrar que cirurgias de qualidade com técnicas e inovações tecnológicas também podem ser realizadas no SUS. “O mesmo tratamento que o paciente do privado e do convênio recebe, a gente também consegue trazer para a vida pública, para o hospital público, para o paciente do SUS, pois o cirurgião tem a mesma qualificação”, diz o Dr. Bonaparte.
Ainda de acordo com ele, também é possível trazer os equipamentos de ponta para o Sistema Único de Saúde. “Hoje já temos no Hospital de Base alguns equipamentos e materiais similares aos que vão ser trazidos para a cirurgia. O que ainda não temos é o robô e essa realidade virtual em 3D. Como a maior porcentagem desses pacientes com câncer de pulmão estão no SUS, a intenção era que isso abrangesse também as unidades públicas de saúde para demonstrar que isso também é viável”, conta o Dr. Bonaparte.

“Estou muito emocionada com o trabalho excepcional realizado pelo Hospital de Base, especialmente pela equipe de cirurgia torácica liderada pelo Dr. Humberto”, afirmou a Dra. Paula Ugalde, cirurgiã torácica do Brigham and Women’s Hospital, em Boston. “Tivemos o apoio fundamental de empresas que doaram os materiais, além da participação à distância da nossa radiologista, que está no Canadá. Foi realmente um time muito forte.”
Segundo a especialista, o maior ganho é para a paciente, que pôde ser submetida a um procedimento minimamente invasivo com uso de tecnologia de ponta. “Fizemos uma incisão mínima, utilizando óculos de realidade mista, isso representa um salto de modernidade. Além disso, o ensino esteve presente, com alunos acompanhando a transmissão ao vivo e aprendendo com a prática.”
Todos os materiais descartáveis utilizados nas cirurgias são fornecidos por empresas parceiras, como Johnson & Johnson e Medtronic, garantindo que os procedimentos não gerem custos adicionais para o sistema público. O curso foi organizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), com apoio do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF) por meio da Diretoria de Inovação, Ensino e Pesquisa (DIEP), da Superintendência do Hospital de Base e do Hospital e Faculdade Sírio-Libanês, além de empresas como AstraZeneca, Roche e Strattner.