Mesmo tendo que concentrar suas ações no atendimento às vítimas do coronavírus, o Hospital de Base (HBDF) conseguiu manter uma de suas principais atividades: o transplante de rins e córneas. Entre 1º de janeiro o de 2020 e 31 de julho de 2021, o hospital realizou 117 dos 546 transplantes de córneas e rins feitos na rede pública e privada de saúde do Distrito Federal, o que corresponde a 21,4% dos procedimentos feitos no período.
A informação foi dada nesta quarta-feira (15) pela enfermeira Camila Hirata, diretora da Central de Transplantes do DF (CET) da Secretaria de Saúde (SES), que em parceria com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (IGESDF) participa da campanha nacional Setembro Verde, realizada para conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos e tecidos.
Para o superintendente do HB, Paulo Cortez, a pandemia atrapalhou, mas não diminuiu o ritmo dos transplantes no HB. Ele lembra que em 2018, quando a unidade foi transformada no Instituto Hospital de Base, foram realizados 61 transplantes (seis de rins e 57 de córneas). Já em 2019, após o HB passar a ser administrado pelo IGESDF, ocorreram 100 procedimentos (13 de rins e 87 de córneas). No total, nesses dois anos foram realizados 161 transplantes.
Em 2020, o número de transplantes de rins subiu para 17 e o de córneas caiu para 45. Até 31 de julho de 2021 já foram feitos seis transplantes de rins e 49 de córneas. Assim, nos últimos 18 meses o HB conseguiu realizar 117 transplantes do total de 546 procedimentos realizados no período na rede pública do DF.
De janeiro até 1º de agosto deste ano, toda a rede pública e privada do Distrito Federal realizou o total de 389 transplantes, sendo coração (13), fígado (56), córnea (205), rim (55) e medula óssea (60), segundo a Central de Transplantes. Já no período de janeiro de 2018 e junho de 2021, a rede de saúde realizou 1.382 transplantes de rins e córneas, dos quais 255 procedimentos foram feitos no Hospital de Base, segundo a Central de Transplantes.
Lista de espera
Atualmente, 973 pacientes estão na lista de espera, aguardando por um transplante no DF, dos quais 214 aguardam ser atendidos pelo Hospital de Base. São 150 pessoas esperando por transplante de rim e 64 de córnea. A lista não é seguida por ordem de chegada, mas sim por compatibilidade, como a tipagem sanguínea. “A gente segue esse fator rigorosamente, porque quanto mais compatível, menor risco de rejeição”, esclarece Hirata.
A luta de Ana Carolina
A auxiliar administrativa Ana Carolina Soares, 38 anos, saiu da lista em julho do ano passado, quando recebeu um novo rim após passar um ano e nove meses sobrevivendo por meio de hemodiálise. Foi o segundo transplante de Ana. “Com 15 anos de idade, descobri um problema renal e passei 10 anos na fila”, conta. Ela fez o transplante e, 11 anos depois, ocorreu a rejeição ao órgão. Ana Carolina voltou para a fila até ser chamada para nova cirurgia. “Desta vez, os cuidados foram ainda maiores, principalmente por causa da covid-19”, salientou.
Como o corpo de Ana Carolina estava mais debilitado, a adaptação do segundo transplante foi mais difícil. Inicialmente, houve rejeição ao novo rim. Só depois de 44 dias de internação, o organismo dela aceitou o órgão. “A equipe do Hospital de Base fez de tudo para eu não perdê-lo”, conta. “Foi um tratamento intensivo e constante. Sou eternamente grata a todos.”
Doação de Órgãos
O Dia Nacional da Doação de Órgãos, comemorado em 27 de setembro, foi instituído pela Lei nº 11.584/2.007, objetivando conscientizar a sociedade sobre a importância da doação e, ao mesmo tempo, fazer com que as pessoas conversem com seus familiares e amigos sobre o assunto. No Distrito Federal, “o Hospital de Base é um importante disseminador da cultura de doação de órgãos no DF”, segundo Camila Hirata. “Além disso, conta com profissionais com uma vasta experiência e qualificação na área de transplante”, elogia.
Cultura da doação
Com a pandemia, o Ministério da Saúde definiu protocolos específicos tanto para transplantes de córneas quanto de rins, os quais estão sendo seguidos pelo Hospital de Base. No caso das córneas — que são tecidos e não órgãos —, os transplantes eletivos ficaram suspensos entre abril e setembro do ano passado por recomendação da Coordenação Geral do Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde. Naqueles meses, só foram autorizados os transplantes em que o coração do doador de córneas ainda estava pulsando.
Em relação aos rins, a Unidade de Nefrologia do HB manteve as cirurgias, mas adotou cuidados específicos, como realização de exames RT-PCR em todos os doadores, tomografia de tórax e isolamento dos receptores. Foram, porém, suspensas as doações de rins de pessoas vivas. “Tudo isso para evitar ao máximo a contaminação pela covid-19”, explica a médica Viviane Brandão, responsável pela técnica por transplantes de rim do HB.
A médica acrescenta que o transplante de córnea só é realizado após a autorização, por escrito, da família. Quando o paciente tem a confirmação da morte encefálica, a família é consultada sobre a doação dos órgãos. “A permissão da família é muito importante para salvar vidas”, ressalta Viviane Brandão. Além disso, o órgão tem que passar por exames de compatibilidade entre doador e receptor.
Como doar órgãos
Há dois tipos de doadores. O primeiro tipo é o doador vivo, que concorda e autoriza doar um dos seus rins ou parte do fígado, do pulmão ou da medula óssea. O segundo tipo é o doador falecido, um paciente com diagnóstico de morte encefálica ou morte por parada cardíaca. No caso de morte encefálica, cada doador pode salvar até oito vidas. A doação tem que ser autorizada pela família.
Nos dois casos, em geral os doadores são familiares do paciente. Na maioria dos casos, os órgãos deles são compatíveis com o parente que precisa recebê-los. No caso específico de transplante da medula óssea, o cadastro do candidato à doação é feito na Fundação Hemocentro de Brasília.