Medo, insegurança, instabilidade emocional. Esses são alguns sentimentos com os quais uma pessoa com câncer precisa lidar na tentativa de ressignificar a doença e encontrar um novo sentido de vida. Do diagnóstico ao tratamento, a caminhada assemelha-se a uma montanha-russa. “São muitos altos e baixos. Num dia, você está bem; no outro, não aguenta mais falar sobre o assunto”, define Eloilde de Assis, 45 anos, paciente do Hospital de Base (HB) há três anos. Apesar de difícil, a caminhada da guerreira tornou-se um pouco mais leve com o suporte de profissionais especializados.
Ela é um dos diversos pacientes que recebem apoio psicológico durante todo o processo de hospitalização na unidade administrada pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF). Uma rede formada por psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais atua para amenizar os efeitos do adoecimento e promover qualidade de vida.
Acompanhada desde 2019 pela equipe multiprofissional do Serviço de Cuidados Paliativos do HB, atualmente Eloilde se sente muito melhor do que quando recebeu o primeiro diagnóstico de câncer, em 2004. “No começo, quando falava o que estava sentindo, parecia que arrancava uma coisa ruim de dentro. Hoje consigo, cada vez mais, aceitar minha condição. Não estou mais triste”, afirma.
Trajetória desde o primeiro diagnóstico
A luta da piauiense teve início com um câncer de mama em 2004. “Eu estava no Piauí quando recebi o diagnóstico. Na época, fiz todo o tratamento necessário e me curei”, conta. Oito anos depois, quando veio para Brasília morar perto do irmão, Eloilde começou a sentir um incômodo na coluna. Em uma consulta particular, descobriu a reincidência do câncer.
Foi aí que sua história no Hospital de Base começou, em 2012. Diagnosticada com um câncer na coluna e um nódulo no fígado, a aposentada iniciou novo tratamento para a doença. Até agora, foram cinco sessões de quimioterapia, além de medicações para controlar os efeitos colaterais. Em 2019, Eloilde passou a ser acompanhada pela equipe de cuidados paliativos.
Esse apoio ajudou a paciente, principalmente em 2020, quando ficou 59 dias internada no HB devido a complicações do câncer. Nesse período, também foi diagnosticada com covid-19. “Eu sofri muito, foram dias difíceis, mas, com a ajuda dos profissionais, consegui me reerguer.” A piauiense foi acompanhada por psicólogos e terapeutas ocupacionais. “Todos estavam cuidando de mim a todo momento. Esse auxílio fez toda a diferença.”
Atendimento complementar no tratamento do câncer
O Serviço de Cuidados Paliativos é uma unidade de atendimento ambulatorial especializada em complementar o tratamento de pacientes oncológicos atendidos no Hospital de Base. A equipe é composta por quatro médicas paliativistas, uma assistente social, uma psicóloga, uma terapeuta ocupacional, três técnicas de enfermagem, um técnico administrativo e uma recepcionista.
Os atendimentos visam ajudar o paciente a lidar com a doença em diversos aspectos. “O foco é na qualidade de vida. A gente trabalha com um conceito que é de ‘dor total’. Além da dor física, a gente diagnostica outras dores, como sociais, emocionais, psicológicas, espirituais. Ou seja, precisamos olhar para o ser humano em várias dimensões”, explica a psicóloga do serviço, Flávia Nunes.
Cada pessoa recebe um atendimento específico. No caso de Eloilde, a equipe trabalha com a ansiedade e a adaptação às mudanças e às limitações do adoecimento dela. “Ela chegou aqui muito fragilizada com as transformações causadas pelo câncer. Nosso primeiro passo foi acolher e ter uma postura curiosa, atenta e de escuta”, detalha Flávia. O segundo passo, segundo a psicóloga, foi pensar, ao lado da paciente, nas possibilidades que a doença traz. “A gente pensa na maneira de ela se reinventar em todo esse processo.”
O Serviço de Cuidados Paliativos atende de segunda a sexta, das 7h às 12h e das 13h às 18h, no térreo do Hospital de Base, próximo ao refeitório. As consultas são exclusivas para pacientes e familiares atendidos na unidade de saúde e são agendadas após encaminhamento dos profissionais de oncologia.
Campanha Janeiro Branco
O trabalho do Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital de Base é alinhado com a campanha nacional Janeiro Branco, que busca conscientizar sobre as necessidades relacionadas à saúde mental e emocional das pessoas. Também em apoio à campanha, o Iges iniciou, neste mês, a oferta de serviços psicológicos para os seus colaboradores.