Saúde do GDF oferta 700 vagas de terapia para doentes renais crônicos

Saúde do GDF oferta 700 vagas de terapia para doentes renais crônicos

Diálise Peritoneal deve ser difundida para reduzir as filas de hemodiálise, afirmam especialistas em evento do IgesDF

Abnor Gondim

Doentes renais crónicos devem procurar preencher as 700 vagas disponíveis na rede de saúde pública do Distrito Federal para serem tratados por meio de Diálise Peritoneal (DP), terapia eficaz, mas ainda pouco conhecida entre pacientes e profissionais de saúde.

Cristhiane Gico, chefe de Nefrologia do Hospital de Base: milhares de pacientes vão morrer nas filas de hemodiálise

Apelos nesse sentido foram reiterados nessa terça-feira (4) por palestrantes e participantes de debate sobre o tema tratado em workshop promovido pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal — IgesDF.

No evento, especialistas defenderam a criação de uma nova lei nacional para aumentar a procura e oferta dessa alternativa por representar qualidade de vida aos pacientes e redução das filas por hemodiálise, cujo serviço é bem mais desgastante e oneroso para o paciente e para o poder público.

Uma luz de esperança foi destacada durante o debate. Trata-se do lançamento também nessa terça-feira da primeira Frente Parlamentar da Nefrologia do Congresso Nacional. Nefrologia é a especialidade médica dedicada ao diagnóstico e tratamento clínico das doenças do sistema urinário, principalmente relacionadas ao rim

Com o título “Por que não indicar Diálise Peritoneal?”, o workshop buscou aprimorar conhecimentos teóricos e práticos dessa terapia. A perda de especialistas nessa alternativa está entre as principais preocupações dos organizadores do debate.

Estima-se hoje que cerca de 30 milhões de brasileiros tenham algum tipo de problema renal, segundo os dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia.

Caroline Pimenta, coordenadora de Diálise Peritoneal, abriu evento que reuniu profissionais de saúde para disseminar as técnicas da terapia

Onde estão as vagas?

Ao participar do workshop, a médica Cristhiane Gico fez uma defesa empolgada da Diálise Peritoneal como profissional de saúde e chefe de Nefrologia e Transplante do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF). Essa instituição é administrada pelo IgesDF,  juntamente com o Hospital Regional de Santa Maria e 13 Unidades de Pronto Atendimento, as UPAs.

“A primeira opção aos pacientes renais crônicos precisa ser Diálise Peritoneal, tanto para benefício do próprio paciente como para sustentabilidade  financeira do SUS [Sistema Único de Saúde]”, assinalou. Além da DP, há mais duas terapias que substituem a função do rim:  transplante e hemodiálise.

De acordo com a gestora, das 200 vagas de DP ofertadas no HBDF, 127 ainda estão ociosas. Disse que há outras 500 vagas nas unidades vinculadas à Secretaria de Saúde do Distrito Federal.

Cristhiane explicou quais doentes devem procurar essas vagas. “Pacientes que estão em ambulatório de renal crônico se preparando para iniciar diálise ou já estão realizando hemodiálise podem solicitar avaliação do seu médico e da enfermaria a fim de ser regulado para  Diálise Peritoneal”, detalhou.

Assinalou que todos os serviços de nefrologia do Distrito Federal tem vagas ociosas para oferecer de Diálise Peritoneal e também há vagas em unidades credenciadas pelo SUS para realizar essa terapia.

Mario Ernesto Rodrigues, ex-chefe de Nefrologia do HBDF: vários países já criaram leis sobre o uso da terapia

DP como política pública

Daí porque houve manifestações a favor de uma nova legislação nacional para tornar obrigatória, na rede pública de saúde, a sensibilização sobre o uso da terapia e a abertura de mais serviços de Diálise Peritoneal planejada e não planejada.

A recém-lançada Frente Parlamentar da Nefrologia deverá ter como prioridade a disseminação da DP, disse acreditar o nefrologista Mario Ernesto Rodrigues, 72 anos, ex-chefe de Nefrologia do HBDF.

Mario Ernesto foi um dos nove palestrantes do evento. “Já há vários países que estão bem à frente colocando essa terapia como política pública”, destacou. Ele deixou um legado no setor de Nefrologia a favor do DP.

Engajamento

“Quem trabalha com Diálise Peritoneal transforma a alma, porque presencia vida e alegria de viver dos pacientes renais“, enfatizou a atual chefe de Nefrologia, ao elogiar o engajamento profissional e afetivo pela causa assumida por médicos, residentes, enfermeiros e técnicos em enfermagem, além de pacientes, para colocar essa terapia como política pública.

“É necessário que todos nós estejamos engajados em defesa da DP para se tornar uma política pública que melhore o atendimento“, afirmou. Sem isso, ela projetou: “Nunca haverá máquinas de hemodiálise suficientes, e milhares de pacientes morrerão nas filas”. Ainda assim, citou que novos profissionais surgem abraçando a terapia, a exemplo da médica Caroline Pimenta, que abriu o debate como coordenadora de DP no Hospital de Base.

Os participantes lotaram o auditório do 12º andar do HBDF vestidos com camisas referentes à campanha a favor da ampliação do atendimento desses casos graves pela DP. A bandeira deles é estimular a alternativa às desgastantes sessões em que os pacientes são submetidos em aparelhos de hemodiálise. No Brasil e pelo mundo afora.

Para a chefe de Nefrologia, o mais grave é que essas filas de hemodiálise vão continuar a aumentar porque as pessoas não mudam seus hábitos e continuam exagerando no consumo de alimentos super processados e tomando remédios que contribuem para o aparecimento das doenças renais.

Guaciane conta como leva uma vida normal sem agulhadas

Vida normal com funk

Palestrante no evento, a paciente Guaciane Nunes de Oliveira prestou seu depoimento a favor do uso de equipamentos e suporte para uso do DP. Desde os 12 anos de idade, ela se trata no Hospital de Base como doente renal crônico.

Bastante animada e sorridente, a paciente fez uma demonstração sobre como usar o DP. “Casei, tive dois filhos. Faço a DP em casa e onde quer que esteja, sem precisar passar horas em um aparelho de hemodiálise. Sem agulhadas. Levo uma vida normal e ainda danço funk”, comemorou.

 

Maria Eduarda Vasconcelos

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