O Hospital de Base (HB) é a maior e mais antiga unidade de saúde pública do Distrito Federal e uma das mais importantes do Brasil. Fundado em 1960, o HB ocupa 54 mil metros quadrados de área construída, formada por 12 andares, onde estão distribuídos 634 leitos e cerca de 30 tipos de serviços médico-hospitalares, inclusive transplantes de alta complexidade. Mais de 10 mil pessoas são atendidas diariamente ali. Para recebê-las, o hospital conta com 4 mil colaboradores. Tudo para salvar vidas.
À frente desse exército de profissionais, há um batalhão de médicos renomados e conceituados internacionalmente. Entre eles destacam-se doutores cuja trajetória profissional se confunde com a própria história do Hospital de Base.
É o caso dos médicos José Carlos Quinaglia e Silva, 68 anos, Osório Luís Rangel de Almeida, 74, e Julival Ribeiro, 67. Conheça a história desses profissionais que, há mais de três décadas, se dedicam a salvar vidas no Hospital de Base, uma das oito unidades administradas pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF).
“O HB é uma verdadeira referência para a saúde”
O cardiologista José Carlos Quinaglia e Silva atua no Hospital de Base desde 1982. São 39 anos dedicados à instituição. Uma trajetória que começou em 1977, quando o garoto vindo do interior de São Paulo conseguiu se formar em medicina pela Universidade de Brasília (UnB).
Especializou-se em cardiologia em homenagem ao pai, que sofria da Doença de Chagas, transmitida pelo inseto barbeiro. Desde criança, ele acompanhava o sofrimento do pai. “A enfermidade do meu pai expôs para mim as dificuldades que pessoas com doenças cardíacas enfrentam”, relata.
Em 1998, José Carlos ajudou a fundar a Associação dos Amigos do Hospital de Base. Formado por servidores e pessoas da comunidade, o grupo conseguiu arrecadar dinheiro para comprar equipamentos caros, que seriam usados em cirurgias complexas.
A dedicação à cardiologia o fez assumir cargos estratégicos no HB. Entre 2001 e 2002, foi chefe da Unidade de Cardiologia. Depois, entre 2003 e 2005, ocupou os cargos de vice-diretor e diretor da instituição. Mais tarde, entre 2011 e 2012, comandou a Unidade Coronariana do hospital. “O HB é minha verdadeira paixão”, declara-se. “O nosso hospital é essencial para os atendimentos de média e alta complexidade, uma verdadeira referência para a saúde.”
Defensor do ensino e da pesquisa, o médico também se destacou como pesquisador-chefe do Brazilian Heart Study, iniciação científica voltada para estudantes da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), da UnB, da Universidade Católica de Brasília (UCB) e do Centro Universitário de Brasília (Ceub). “Esse contato com os alunos é importante porque nos permite, além da pesquisa, ensinar a importância de um trato humanizado com o paciente”, defende. “Temos essa responsabilidade com os novos médicos e o compromisso irrefutável com a medicina.”
No ano de 2004, o profissional assumiu a direção geral do Hospital de Base e um dos projetos implementados foram as visitas itinerantes e semanais nas unidades do hospital para ouvir servidores e gestores sobre as suas principais necessidades. “A partir dessa visita, um plano de ação programava as melhorias por setores”, comenta Quinaglia.
O médico também esteve presente no aniversário de 46 anos do HB. “No dia, houve uma belíssima e memorável homenagem, com servidores, pacientes, terceirizados e usuários de mãos dadas e em volta do hospital dando um ‘grande abraço’ no nosso gigante HB”, completa, orgulhoso.
“O HB sempre foi um hospital de vanguarda”
O capixaba Osório Luís Rangel de Almeida chegou a Brasília em 1962, dois anos após a inauguração da capital. Formando em medicina pela quarta turma da Universidade de Brasília (UnB), o cardiologista ingressou no Hospital de Base em 1986, ao ser convidado para integrar a Unidade Coronariana do HB, área de cuidados intensivos para pacientes com problemas cardíacos que necessitam de monitoramento 24 horas.
Em 35 anos de dedicação ao HB, o doutor Osório acumula inúmeras conquistas e recordações. Em 1983, por exemplo, foi responsável pela implantação da telemedicina no hospital. Era um dos médicos que, por telefone, prestava consultoria a diversos colegas que trabalhavam em outras regiões administrativas do DF. “A orientação era por meio dos sons de eletroencefalograma e de eletrocardiograma dos pacientes em atendimento”, explica o cardiologista.
O doutor Osório lembra-se de um paciente especial: o presidente Tancredo Neves. Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo foi eleito presidente do Brasil por meio de voto indireto do Congresso Nacional. Em 14 de março daquele ano, um dia antes de tomar posse, foi internado às pressas no Hospital de Base, após ser diagnosticado com apendicite aguda. Osório fez parte da equipe médica que atendeu o chefe do Executivo. Tancredo depois seria transferido para o Instituto do Coração, em São Paulo, onde faleceu em 21 de abril, aos 75 anos.
Mas o que mais orgulha o cardiologista é salvar vidas. Osório perdeu as contas de quantas vezes dormiu ao lado de pacientes, na UTI, para acompanhar a evolução clínica dos doentes. Quando conseguia liberá-los, comemorava. “Nossa maior satisfação é ver a alta de um internado”, garante. “O paciente sempre tem razão e merece o melhor atendimento”.
Osório orgulha-se também de continuar fazendo parte da equipe de profissionais no Hospital de Base, referência no atendimento de traumas e de procedimentos de alta complexidade. Esse reconhecimento foi conquistado por causa da dedicação dos médicos aos pacientes, segundo Osório.
“O HB sempre foi um hospital de vanguarda, com as mais altas competências e com profissionais de ponta, vindo de todos os lugares do País e do mundo”, ressalta o médico. “Muito mais que pela estrutura física, o HB se define principalmente pela qualificação do seu pessoal.”
Defensor do ensino e da pesquisa como um dos tripés essenciais para o desenvolvimento da ciência, atualmente o cardiologista dedica parte de sua carga horária a ensinar aspirantes a médicos. “Esse também é um dos nossos compromissos éticos: transmitir o conhecimento adquirido”.
“O HB há anos forma médicos residentes”
Outro jaleco conhecido nos corredores do HB é o do infectologista Julival Ribeiro, 67 anos. A caminhada do baiano em Brasília começou em 1980, por escolha do destino, como define. “Após me formar em medicina em Salvador, fiz concurso de residência em vários locais, um deles o Distrito Federal”, conta. E aqui ficou.
O amor pela capital foi à primeira vista e nela concretizou o sonho de atuar na profissão que escolheu. “Amo esta cidade, onde tive a oportunidade de crescer”, declara Julival. “Deus também me iluminou de ter vindo para o Base, lugar de referência na saúde.”
Há 30 anos ele trabalha no hospital, estando à frente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. Em 2011, foi diretor-geral do HB. No cargo, desenvolveu em equipe um trabalho com objetivo, sobretudo, do cuidado ao paciente. “Criamos a Unidade Neurocardiovascular, reestruturamos totalmente o Trauma e atuamos na Comissão de Ensino e Pesquisa”, relembra.
Defensor do Sistema Único de Saúde (SUS), acredita que a assistência ao cidadão sempre deve ser o ponto de partida na medicina. “Atender é a nossa razão de ser médico.” Atrelado ao compromisso com o paciente, Julival enumera o ensino e a pesquisa. “O Base forma há muitos anos médicos residentes”, atesta. “O nosso objetivo é melhorar, sempre, qualquer educação contínua, visando, sobretudo à alta performance do serviço.”
Foram muitos os casos marcantes durante a trajetória do médico, mas uma história ele considera como a mais marcante e especial. Em 2008, durante uma ronda na UTI Pediátrica, ele conheceu um menino que havia sido atropelado por um caminhão. “O transporte passou por cima do abdômen dele, e foram necessárias várias cirurgias para restabelecer a criança”, lembra.
No dia em que conheceu o paciente, ele encontrou o pequeno intubado, mas algo lhe chamou a atenção. “Ao me aproximar, eu senti que ele me pedia ajuda. Então, a partir daquele momento passei a dedicar todos os dias para resolver o problema daquela criança, junto com a equipe da cirurgia pediátrica”, conta.
Depois de dois meses, o paciente recebeu alta. Mas a história do menino continuou na vida de Julival, em forma de arte. Isso porque, por coincidência do destino, um quadro pintado pelo garoto chegou às mãos do médico. “Um belo dia, teve uma exposição na área administrativa do HB, organizada pelo pessoal da Pediatria. Nesse dia, eu virei para a professora de arte e pedi um quadro que tivesse felicidade e alegria. Ela me entregou justamente a obra pintada pela criança que eu tinha atendido”, ri, Julival. “Eu comprei e tenho até hoje na minha casa. É uma imagem de vida, de esperança. Nem por um milhão de dólares eu vendo esse quadro.”