A pandemia do coronavírus fez aumentar o número de pacientes que, em consequência dos efeitos emocionais causados pela propagação da doença, passaram a apresentar algumas disfunções urinárias. É o que demonstra balanço divulgado nesta segunda-feira (30) pelo Ambulatório de Fisioterapia Pélvica do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), único da rede do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (IGESDF) a oferecer tratamento especializado para tratar disfunções do assoalho pélvico, que é um conjunto de músculos responsáveis pela sustentação de órgãos abdominais como útero, bexiga, intestino e próstata (nos homens).
O HRSM realizou 1.117 atendimentos fisioterápicos pélvicos entre janeiro de 2020 e agosto de 2021, em plena pandemia. Somente no ano passado foram 485 procedimentos, que subiram para 632 neste ano, registrando crescimento de 30,3% no período, segundo a fisioterapeuta pélvica Vanessa Almeida, que atende esse serviço no HRSM. Ela explicou que o número de atendimentos só não foi maior porque durante quatro meses seguidos, entre abril e julho de 2020, as atividades do Ambulatório de Fisioterapia Pélvica foram suspensas por causa da pandemia.
Efeitos da pandemia
A covid-19, conforme Vanessa, também provoca sequelas emocionais que podem resultar disfunções urinárias. Mesmo pessoas não contaminadas com instabilidade emocional também podem apresentar sintomas urinários. Com o avanço da vacinação, essas pessoas estão buscando tratamento especializado para enfrentar as sequelas. “Sentimentos como medo, ansiedade, angústia, estão ligados às consequências de problemas urinários”, explica a fisioterapeuta. “Depois que a pandemia passou a ser mais controlada e com a vacinação em andamento, as pessoas começaram a se sentir mais seguras para sair de casa e procurar por atendimento”.
Para atender esses pacientes, o setor de Fisioterapia Pélvica do HRSM passou a disponibilizar novos horários de atendimento e ampliou a rotatividade das consultas para atender, principalmente, pessoas que haviam sido contaminadas pela covid-19. Vanessa Almeida relata que as disfunções abalam o emocional dos pacientes, que tendem a ficar depressivos e antissociais. “Muitos deles, devido à incontinência urinária, precisam usar fraldas, e isso causa constrangimentos diante de outras pessoas. Consequentemente, acabam ficando reclusos isolados e tristes”, explica a profissional.
A Fisioterapia Pélvica apresenta outro benefício: reduz a necessidade de intervenções cirúrgicas no paciente. “Muitos casos são reversíveis apenas por meio do tratamento, o que evita que o paciente seja submetido a operações”, ressalta Vanessa.
Fisioterapia especializada
A fisioterapia pélvica é uma especialidade que atua na reabilitação de músculos do assoalho pélvico, os quais sustentam órgãos como bexiga, útero e intestino. Um dos problemas mais frequentes do enfraquecimento da musculatura pélvica é a incontinência urinária. Existe ainda o risco de queda da bexiga e de útero, devido a fraqueza muscular. Nos homens, o efeito pode causar disfunção sexual devido a cirurgias que possam ter machucado a área pélvica.
Tratamento
O Ambulatório de Fisioterapia Pélvica do HRSM oferece aparelhos e técnicas especiais para tratar pacientes com disfunções pélvicas. Pacientes que não enfrentaram cirurgias passam por 10 a 15 sessões, quanto os que já sofreram cirurgias participam de 25 sessões em média. As sessões incluem o uso de aparelhos e diversos exercícios para alongar, fortalecer e reabilitar os músculos dos órgãos atingidos.
A técnica de enfermagem Elaine Gonçalves, 60 anos, já está na oitava sessão para se livrar da incontinência urinária que surgiu após contrair covid-19. “Além das sequelas musculares, comecei a ter dificuldade no controle urinário”, explicou Elaine, que é atendida uma vez por semana no HRSM. “Com o tratamento melhorei a minha qualidade de vida e consegui ter mais controle da urina”, completou Eliane, que também faz exercícios em casa para melhorar os resultados.
A paciente Elaine Gonçalves recebe atendimento no HRSM para tratar incontinência urinária
Atendimento
O Ambulatório de Fisioterapia Pélvica do HRSM atende pacientes de ambos os sexos com demandas uroginecológicas, como incontinência urinária e disfunção sexual. O agendamento é feito pela Central de Regulação da Secretaria de Saúde, que disponibiliza o mesmo serviço em quatro unidades: Hospital de Taguatinga (HRT), Hospital Regional da Asa Norte (Hran), Hospital Universitário de Brasília (HUB) e Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB).