Um projeto-piloto para ofertar consulta médica online durante a pandemia da covid-19 tem colaborado com a rotina de pacientes com fibrose cística do Hospital de Base (HB), doença genética rara que afeta os pulmões e causa baixa imunidade. O serviço é disponibilizado por meio de Telemedicina (modalidade chamada teleconsulta), e já soma 465 atendimentos de 22 de julho de 2020 até 16 de março de 2021.
As consultas transmitidas pelas telas de celulares, computadores ou tablets são feitas por 15 profissionais do Centro de Referência de Tratamento para Adultos com Fibrose Cística, que é único serviço no DF para atender pacientes com esse diagnóstico. Lá, os pacientes contam com uma equipe multiprofissional composta pelas especialidades de pneumologia, gastroenterologia, psicologia, fisioterapia, serviço social, enfermagem, farmácia clínica e nutrição.
Os 60 pacientes que tem fibrose cística e que fazem tratamento no HB já foram beneficiados com as consultas virtuais. Uma delas é Carla Dutra, de 49 anos, que precisa se consultar a cada três meses, mas agora de uma forma diferente, no conforto de sua casa e com um menos risco de exposição ao vírus.
“Ficar em casa impede que eu fique em dúvida se fui infectada ou não pelo vírus, porque há risco quase zero de pegar”, conta a paciente, ao citar que alguns dos sintomas da fibrose são semelhantes aos da covid. “Quem tem fibrose cística já tem naturalmente um acometimento pulmonar. As consequências com a covid-19 seriam ainda maiores”, completou.
Qualidade no atendimento
Carla Dutra conta, ainda, que recebe toda a assistência necessária da equipe para melhorar a qualidade de vida. “Eles me orientam sobre o tipo de alimentação, perguntam como está sendo o tratamento, tiram dúvidas, receitam remédios, se necessário, e prestam atendimento para minha saúde mental”, descreveu.
Diferentemente da maioria das pessoas que descobrem a doença pelo teste do pezinho, no momento do nascimento, Carla só diagnosticou a fibrose cística aos 42 anos. “Durante a vida inteira tive uma série de pneumonias, asma, sinusites graves e problemas alimentares. Mas em nenhuma das minhas consultas recorrentes algum profissional de saúde suspeitou da fibrose cística”, relembra.
A descoberta aconteceu após ela conhecer a doença. “Fui assistir um filme em que a protagonista tinha fibrose cística e comecei a me identificar com os sintomas. Foi isso que me fez ir à procura de um pneumologista e pedir o teste para a fibrose”. Com o diagnóstico positivo, Carla foi encaminhada para o tratamento no Centro de Referência de Fibrose Cística do Adulto do HB.
Como funciona a teleconsulta?
O serviço foi implantado pela Diretoria de Inovação, Ensino e Pesquisa do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF). “A área de inovação, ensino e pesquisa e as unidades assistenciais tem trabalhado conjuntamente para oferecer as melhores condições de atendimento aos nossos usuários”, garante a diretora da DIEP, Emanuella Ferraz. Para garantir o atendimento virtual médico-paciente é necessário apenas um computador, disponível no ambulatório para Fibrose Cística do HB e de um celular ou computador do paciente. “São necessários apenas computadores, disponíveis no ambulatório de Pneumologia do HB e na Central de Telemedicina do IGESDF e um celular ou computador para o paciente. A conexão é realizada de forma segura por meio de plataforma de comunicação online”, explica a diretora.
Segundo ela, o objetivo é ampliar o serviço para outras áreas da saúde. “À medida que a Telemedicina for se consolidando como estratégia de atendimento em nossa instituição, mais especialidades serão contempladas e mais pessoas serão beneficiadas”, afirma Emanuela Ferraz.
“É um serviço multiprofissional com a coordenação da especialidade da pneumologia, que tem como objetivo um tratamento contínuo e de suporte a quem precisa”, ressaltou a pneumologista coordenadora do projeto, Margarete Zembrzuski.
O que é a Fibrose Cística?
Também conhecida como Doença do Beijo Salgado ou Mucoviscidose, a fibrose cística é uma doença genética crônica que afeta principalmente os pulmões e pâncreas, de acordo com a descrição do Ministério da Saúde. Isso ocorre devido a má formação de uma proteína responsável por eliminar os mucos do corpo humano e causa um acúmulo de bactéria e germes nas vias respiratórias dos acometidos, podendo causar inflamações e infecções respiratórias.
O excesso de muco também pode bloquear o trato digestório e o pâncreas, o que impede a atuação de enzimas, necessárias na digestão e aproveitamento de nutrientes dos alimentos.
A doença não tem cura, mas o tratamento é voltado para o alívio de sintomas com o uso de antibiótico, nebulizadores, suplementos para alimentação e acréscimos de enzimas pancreáticas, fisioterapia respiratória, suporte nutricional, entre outros.