Uma paciente com câncer passou por um procedimento inovador de reconstrução do calcanhar no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) na última sexta-feira (3/12). Trata-se de uma cirurgia em que foi usado tecido da coxa esquerda da própria paciente para reconstituição do pé direito após a retirada de um tumor. Normalmente, nesses casos tratados no HB, a cirurgia realizada envolve a transferência de tecido da panturrilha, conhecida popularmente como “batata da perna”, porém, os resultados são menos satisfatórios, porque aumentam as chances de seqüelas, o que pode exigir que mais cirurgias sejam feitas posteriormente para atingir o resultado desejado.
A cirurgiã plástica que coordenou a equipe responsável pelo procedimento, Laudicely de Araújo Costa, explicou que toda a operação teve duração de aproximadamente sete horas. Primeiro, foi necessário retirar o tumor, o que levou menos de uma hora. Depois, foi necessário fazer a reconstrução de maneira minuciosa. A equipe contou com a participação voluntária do cirurgião plástico Carlos Gustavo Neves, que trabalhou muitos anos no Hospital de Amor, referência em oncologia em Barretos e, agora, mora em Goiânia, mas veio à Brasília exclusivamente para essa cirurgia.
Para garantir o sucesso da operação, também compuseram a equipe profissionais da enfermagem, anestesistas, residentes e uma instrumentadora. Além da força de trabalho humana, foi necessário contar com um microscópio moderno de última geração, aparelho disponível no próprio HB que geralmente é usado em neurocirurgias. “Esse equipamento foi essencial para costurar a artéria e a veia, de maneira que esse novo tecido tenha a oxigenação garantida pela reconstituição da irrigação sanguínea. É um procedimento similar a um transplante de órgão”, só que utilizando o tecido do próprio paciente, esclareceu a médica.
Segundo ela, desde 2013 a cirurgia plástica atua no Hospital de Base fazendo reconstruções em pacientes com câncer, mas essa cirurgia foi inovadora. “Essa paciente vai ter um resultado estético melhor, mas o principal diferencial é que essa cirurgia reduz as chances de sequela, com isso, ela vai ter o melhor funcionamento do membro, ela vai poder andar, apoiar o pé no chão, desenvolver a vida normalmente”, disse.
Para a médica, essa primeira cirurgia abre portas para novas reconstruções. “Nossa expectativa é que mais pacientes sejam beneficiados com essa técnica já usada em outros lugares”, finalizou a cirurgiã, ao contabilizar que uma cirurgia desse tipo na rede privada custaria mais de R$ 100 mil em razão do material, equipe e estrutura empregados.
GRATIDÃO
Internada no sexto andar do HB, a artesã Maria Aguiar de Lima, 51 anos, moradora de Santa Maria foi a paciente beneficiada com o procedimento. Ela foi diagnóstica com câncer no pé pela primeira vez em 2017 e submetida à cirurgia para retirada do câncer em 2018. Porém, o tumor voltou em maiores proporções em 2021, por isso, foi necessário usar uma maior quantidade de tecido na reconstrução.
“Comecei sentindo muita dor no pé e imaginei que fosse um calo. Depois da biópsia, descobri que era câncer. Comecei a ter dificuldade de locomoção. Agora que descobri novamente, fui atendida de maneira rápida. A médica explicou que essa era uma cirurgia nova e a minha expectativa é voltar a ter uma vida normal, poder andar. Por isso, agradeço muito a equipe de médicos do hospital”, finalizou a paciente.