Trabalho financiado pelo Ministério da Saúde foi estudado no Hospital de Base
Uma pesquisa protagonizada no Hospital de Base (HB), administrado pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IGESDF), foi internacionalmente reconhecida e validada na revista The New England Journal of Medicine (NEJM), considerada o periódico de maior impacto na medicina mundial. O estudo foi liderado pela neurologista Letícia Costa Rebello e os neurocirurgiões Eduardo Waihrich e Bruno Parente, todos da Secretaria de Saúde do Distrito Federal que atuam no HB.
A pesquisa nacional, chamada de Resilient, foi desenvolvida em conjunto com outros pesquisadores e especialistas brasileiros em mais 11 centros, sendo financiada pelo Ministério da Saúde para comprovar a eficácia da trombectomia mecânica em casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico agudo no Brasil.
Os resultados apontaram que os pacientes submetidos ao tratamento tiveram mais chances de reduzir ou até mesmo ficarem sem sequelas e de continuarem independentes em suas atividades diárias, mesmo depois de um episódio de AVC.
“Com o resultado desse trabalho saindo na revista mais conceituada do mundo na medicina, validamos essa técnica na realidade do Sistema Único de Saúde (SUS). O impacto desse tipo de tratamento na rede pública de saúde é imensurável, pois pode beneficiar um número enorme de pacientes, devolvendo qualidade de vida para ele e seus familiares”, afirmou Letícia Rebello.
A neurologista lembrou que os pacientes com AVC que passam por esse tratamento ainda tiveram uma recuperação melhor após o procedimento, reduzindo a necessidade de reinternação e de reabilitação.
“Com isso, os gastos com saúde pública ficam menores. É um dos tratamentos mais modificadores na vida de uma pessoa. Pessoas que entraram no hospital sem mexer parte do corpo saíram de lá normais. Pacientes que chegaram sem falar, recuperaram essa importante habilidade. Por isso foi tão importante o reconhecimento desse tratamento através dessa publicação”, destacou.
“A publicação desse estudo é mais um reconhecimento para o Hospital de Base, que tem a vocação no atendimento de alta complexidade, como é o caso do AVC. Sabemos que o melhor tratamento pode mudar totalmente o resultado de quem sofre o AVC e por isso apoiamos essa iniciativa que tem como objetivo trazer essa técnica para o SUS”, ressaltou o diretor-presidente do IGESDF, Sergio Costa.
MINISTÉRIO DA SAÚDE – Apesar de ser uma prática consolidada em outros países considerados de alta renda e já realizada em hospitais estrangeiros, o Ministério da Saúde entendia que não seria possível reproduzir a trombectomia mecânica de forma automática na realidade SUS.
Por isso, o ministério promoveu a pesquisa, iniciada em 2017, para trazer a prática ao Brasil de forma mais segura e viável. Nela, foram avaliadas a equidade e a reprodutibilidade em relação aos dados já demonstrados dos outros países. Esse é o primeiro estudo com essas características realizado em país de baixa renda, que atualmente representam 80% da população mundial.
Das 12 unidades do SUS habilitadas a participar do estudo, somente oito de fato incluíram pacientes. Entre eles, o Hospital de Base, onde Letícia Rebello atuou junto dos neurocirurgiões Eduardo Waihrich e Bruno Parente. Eles a ajudaram no estudo ao fazerem o tratamento endovascular por trombectomia mecânica.
“Inclusive, o Base teve uma grande expressão no estudo, pois foi o segundo hospital do Brasil em volume de pacientes incluídos, ficando atrás somente do HGF em Fortaleza”, ressaltou a neurologista.
Agora, com o resultado da pesquisa publicado, o próximo passo é o Ministério da Saúde incorporar o tratamento ao SUS. Como todos os esforços no momento estão focados no combate ao coronavírus, Rebello acredita que um passo importante será apresentar mais sobre esse trabalho aos gestores da Secretaria de Saúde e do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF).
COMO É REALIZADO – Na trombectomia mecânica, um cateter é usado no AVC isquêmico para desobstruir um vaso sanguíneo no cérebro de forma mecânica, removendo o coágulo com o uso de um cateter de tromboaspiração. A prática é indicada para os casos mais graves, que correspondem entre 30% a 40% dos pacientes que têm AVC.
De acordo com a especialista da Secretaria de Saúde, a técnica é utilizada apenas quando a medicação sozinha não é suficiente.
“Um exemplo que costumo usar é quando se tem um cano entupido, se pode jogar soda cáustica para desentupir. Mas quando isso não funciona, você chama um bombeiro. Caso a medicação não funcione, fazemos o procedimento de trombectomia, para retirada mecânica do coágulo de sangue responsável por obstruir um vaso sanguíneo”, explica a neurologista.
Atualmente, o único tratamento aprovado pelo SUS é a trombólise, em que os coágulos desse tipo são dissolvidos por meio de medicação, chamada Alteplase.
Texto: IGESDF, com informações da Secretaria de Saúde do DF
Fotos: Davidyson Damasceno/Agência IGESDF