Alergia ao látex tornou o procedimento ainda mais complexo –
Nesta segunda-feira (1º), uma paciente com uma condição rara foi submetida a uma craniotomia no Hospital de Base (HB) para retirada de um tumor localizado na região que coordena os movimentos e a sensibilidade do lado direito do corpo.
A paciente, de 51 anos, moradora de Sobradinho, que acompanhava o crescimento de um tumor desde 2015 teve a decisão pela cirurgia tomada após o início de crises convulsivas, desvio de face e perda de força e sensibilidade no membro superior direito. No entanto, a alergia ao látex, descoberta há cerca de sete anos, tornou-se um agravante e a intervenção só pode ser realizada após a adequação de toda a sala de cirurgia. Além disso, o fato de o procedimento exigir que ela fosse acordada durante a retirada do tumor, tornou a situação ainda mais complexa.
De acordo com a chefe do Centro Cirúrgico, enfermeira Élida Ferreira da Silva, a sala onde a cirurgia ocorreu, passou por esterilização terminal 12 horas antes de ser utilizada.
“A esterilização foi feita e após isso, a sala permaneceu fechada para evitar circulação de ar. Além disso, todos os materiais com látex foram retirados. Eletródos, monitores, acessos, luvas, entre outros, são látex free, ou seja, livres desse componente. Conseguimos organizar tudo de maneira efetiva por que o Instituto de Gestão Estratégica do Distrito Federal (IGESDF) já tem se preocupado em adquirir insumos látex free justamente para poder suprir esse tipo de demanda e proporcionar um ambiente seguro para o paciente” destaca.
A cirurgia – O staff, neurocirurgião Paulo Augusto Souza Lara Leão, responsável pela realização da intervenção cirúrgica, salientou que o tumor se tratava de uma lesão de baixo grau, isto é, atualmente é benigno, porém, com grandes chances de se tornar maligno.
“A opção pela retirada foi importante, principalmente por já se tratar de uma paciente acometida de crises convulsivas reentrantes difíceis de controlar. E, como esse tumor estava localizado em uma região complicada chamada Fronto Parietal, responsável pelo movimento e sensibilidade do lado direito do corpo da paciente, fizemos a opção de monitorizar mantendo ela acordada para termos ainda mais garantia na realização desse procedimento”, descreveu o médico.
Para isso, a equipe de anestesistas fez um bloqueio dos nervos do crânio para que ela não sentisse dor no momento em que precisasse ser acordada.
“Superficionalizamos a anestesia e depois diminuímos o nível de sedação até ela se comunicar”, contou o anestesista Victor Cabral Ribeiro.
O procedimento cirúrgico, que durou cerca de oito horas, foi acompanhado de perto pela equipe do Núcleo de Psicologia do HB, conforme explicou a coordenadora, Rejane Bernardes.
“Já havíamos avaliado ela antes, para saber se, de fato, estaria apta para passar por essa cirurgia. Então, durante o procedimento, monitoramos a parte cognitiva como a atenção, coordenação motora, sensibilidade, força, compreensão, linguagem, memória e também realizamos intervenções para mantê-la calma”, pontuou a psicóloga.
Segundo a equipe, ao término da neurocirurgia, foi possível a retirada de cerca de 90% da lesão e a paciente segue agora para avaliações a fim de definir se deverá fazer rádio ou quimioterapia para dar continuidade ao tratamento.
Alergia ao látex – A alergia ao látex é uma reação do sistema imunológico às proteínas do látex de borracha natural, um produto feito a partir de fluidos da seringueira. Os sintomas variam de uma pequena irritação na pele ao choque potencialmente fatal. Uma pessoa alérgica ao látex deve evitá-lo. Medicamentos anti-histamínicos podem ajudar com reações menores. As reações graves podem necessitar de cuidados de emergência. Incidência Menor que 1% na população geral não atópica. Sensibilidade a Látex é relatada em 1 de cada 800 pacientes (0.125%) antes da cirurgia.
Protocolo no IGESDF – Quando comunicado o agendamento de cirurgias, a informação de paciente sensível ao látex é passada para todos os colaboradores do Centro Cirúrgico, para a providência de um ambiente seguro e sequência do protocolo de alergia ao látex da instituição (avaliação de alergia ao látex ou risco durante a triagem de admissão; documentação com registro de paciente alérgico ao látex; colocação de pulseira de identificação de paciente alérgico ao látex; colocação de placa de sinalização na sala cirúrgica, cama, prontuário etc.). Além disso, a sala onde o paciente passará pelo procedimento deve, preferencialmente, ser utilizada no primeiro turno do dia para que esteja, pois é onde encontramos os mais baixos níveis de antígenos dispersos no ar, diminuindo, assim, a exposição às proteínas do látex.
Texto: Leilane Oliveira/IGESDF
Fotos: Davidyson Damasceno/IGESDF