Diante das medidas de combate à pandemia do coronavírus, a unidade de Neurologia do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) vem normalizando o número de atendimentos a pacientes com esclerose múltipla (EM), doença rara que atinge cerca de 2,5 milhões de pessoas no mundo. Foram registrados mais de 400 procedimentos entre março de 2020, início da pandemia, e agosto deste ano. Antes da pandemia, esse número oscilava entre 800 e 1.000 atendimentos ao ano, segundo o neurologista Ronaldo Maciel do HB, do Centro de Referência da Esclerose Múltipla da Secretaria de Saúde do DF.
O médico informou que no que no início da pandemia, houve uma retração no volume de procedimentos porque ao pacientes, temendo contágio por coronavírus e por causa das medidas restritivas, deixaram de procurar o HB. Com a vacinação, a queda do número de morte e a flexibilização das restrições, antigos pacientes estão retomando e outros estão começando o tratamento. “A tendência é que esse número aumente cada vez mais”, prevê o médico.
Embora não existam dados oficiais, estima-se que no DF cerca de 900 pessoas tenham esclerose múltipla. O Hospital de Base, administrado pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IGESDF), é centro de referência no tratamento dessa doença. São mais de 50 anos oferecendo esse serviço.
O maior número de pacientes atendidos no Ambulatório de Neurologia do HB reside no próprio Distrito Federal, mas uma grande parcela é proveniente do Nordeste e do Norte, segundo Maciel. Eles chegam ao Ambulatório encaminhados pelas unidades básicas de saúde (UBSs), unidades de pronto atendimento (UPAs) e outros hospitais regionais. No HB, recebem toda a atenção da equipe de Neurologia.
A esclerose múltipla
“A esclerose múltipla é uma doença rara e sem cura, que acomete adultos entre 20 e 40 anos, principalmente mulheres, ocasionada por causas não externas, ainda desconhecidas”, ensina Ronaldo Maciel.
A doença, conforme o médico, é uma inflamação do sistema nervoso central, que pode afetar fala, visão, equilíbrio, força, controle dos membros e também transtornos cognitivos, emocionais e sexuais. Entre os sintomas apresentados estão a fadiga, distúrbios visuais, fraqueza muscular, dificuldades na fala e na visão, além de alterações emocionais e cognitivas, ocasionados pela inflamação do sistema nervoso.
“Quanto mais cedo começar o tratamento, maior a chance de prevenção da incapacidade física e mental dos pacientes”, aconselha Maciel. O tratamento é feito por meio de medicamentos específicos, além de fisioterapia, terapia ocupacional, psicoterapia e atividades físicas, de acordo com o quadro clínico de cada paciente.
Conscientização sobre o tema
O médico lamenta o preconceito enfrentando pelos portadores de esclerose múltipla. “É uma doença estigmatizante, que gera impactos sociais e econômicos aos doentes, que são afastados muito cedo do ambiente de trabalho e acabam ficando marginalizadas da sociedade”, aponta Maciel, que atua há mais de 15 anos no tratamento e na luta pela conscientização sobre a doença.
Na última segunda-feira (30), quando se celebrou o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla, ele participou de atividades voltadas a enfrentar o preconceito. “É cada vez mais importante falar sobre a doença e oferecer políticas públicas às vítimas”, defendeu. “A minha luta como médico é que essas pessoas tenham cada vez mais acesso a boas condições de tratamento e a profissionais especializados, na busca por acessibilidade e oportunidades”.
O médico atua também para ampliar os benefícios às vítimas da doença, que hoje têm acesso gratuito a medicamentos de alto custo, terapias especiais e a uso de carros adaptados, conforme determina a portaria nº 1.323, de 25 de novembro de 2013.